09/06/2011 21:40:43
LISTA
Distribuição de médicos é desigual
Apesar de ter mais profissionais do que o estipulado pela OMS, Brasil concentra 73% deles nas regiões Sul e Sudeste, deixando outras áreas pouco assistidas
Publicado em 09/06/2011 | Fabiula Wurmeister, da sucursal, e Marco Martins, correspondente em Santo Antônio da Platina
A desigualdade na distribuição de médicos no Brasil acompanha outros abismos sociais existentes no país. Apesar de haver um médico para cada 549 brasileiros - índice superior ao recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), de um para cada mil pessoas -, sete em cada 10 profissionais habilitados para atuar no país trabalham nas regiões Sul e Sudeste. Com isso, enquanto no Rio de Janeiro há um profissional para cada 289 habitantes, no outro extremo, os maranhenses dispõem de um médico para cada 1.848 pessoas. Os dados são de um novo balanço do Conselho Federal de Medicina (CFM).
Há cerca de 347 mil médicos espalhados por todo o Brasil. Não fosse a disparidade na repartição desses profissionais, poderia ser dito que a situação brasileira é melhor que a de países como o Japão (com um médico para cada 952 habitantes), Reino Unido (um para 869 pessoas) e Argentina (um para 740). A média recomendada pela OMS visa garantir que a população tenha assistência médica, assim como os profissionais tenham um número satisfatório de pacientes. No ranking brasileiro, o Paraná ocupa o 7.° lugar, com um profissional para cada grupo de 586 habitantes.
Improviso custa 30% da verba
Sem conseguir atrair médicos para trabalhar na cidade, a Secretaria de Saúde de Joaquim Távora, no Norte Pioneiro, vem gastando em média 30% do que investe no setor com o pagamento de especialistas levados à cidade e procedimentos realizados em outros municípios. E, para não deixar a população de quase 11 mil habitantes sem atendimento nos finais de semana, a secretaria tem pagado até R$ 2 mil por plantão de 24 horas no único hospital da cidade - mantido pela prefeitura.
Proximidade
No interior, consulta até no portão de casa
A placa na frente de uma imponente clínica médica de Santo Antônio da Platina, no Norte Pioneiro, indica que aquele é o local de trabalho do endocrinologista Klaus Crespo Lourenço, 30 anos. Ao contrário da maioria, ele escolheu o interior para trabalhar depois que se formou em Porto Alegre (RS) há pouco mais de um ano.
Contudo, a placa não diz que o endocrinologista é o mesmo garoto que viveu na cidade até ir para a faculdade e que, até hoje, é conhecido pelo apelido de infância. Kau Crespo, ou simplesmente Kau, faz questão de ser chamado pelo apelido, inclusive por boa parte dos seus pacientes.
O endocrinologista conta que, entre outros fatores, foi exatamente essa relação de proximidade que o fez trocar a chance de ficar na capital gaúcha para trabalhar em uma pequena cidade do interior. "A diferença é que o reconhecimento como profissional chega à medida que você se torna conhecido. Como a cidade é menor, esse tempo também diminui", explica o médico.
Oportunidade
Lourenço revela que em apenas um ano já são mais de 700 pacientes somente na sua clínica, fora os atendimentos feitos na rede pública. O endocrinologista observa que se estivesse em uma cidade grande, como Porto Alegre, dificilmente estaria atuando em uma clínica. "Com certeza, estaria vivendo de plantões em grandes hospitais."
Mas se é interessante do ponto de vista profissional, porque há escassez de médicos, principalmente especialistas, no interior? Para ele, a opção de trabalhar no interior deve estar aliada ao fato de gostar da vida nas cidades pequenas e de se habituar a encontrar seus pacientes diariamente, na rua, na padaria, na escola dos filhos e até em casa. "Já tive que dar consulta na porta de casa", revela.
Para o governo, o problema pode ser resolvido nas escolas médicas. Já para entidades de classe e especialistas, a má distribuição de recursos humanos é apenas a ponta do iceberg. "Apesar do bom índice, qualidade em saúde não pode ser medida apenas pelo número de profissionais disponíveis. Há uma série de outras exigências envolvendo formação, continuidade na qualificação profissional e infraestrutura. Se levarmos em conta o volume de médicos formados a cada ano, em pouco tempo não poderemos mais falar em defasagem. Isso não significa que o problema da má distribuição estará resolvido, pelo contrário", aponta o ex-presidente da Comissão de Residência Médica do Paraná, João Carlos Simões.
Uma das estratégias oficiais em curso - a cargo da Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação em Saúde do Ministério da Saúde (MS) e da Comissão de Especialistas do Ensino Médico do Ministério da Educação (MEC) - é a elaboração do Plano Nacional de Educação Médica. Uma das propostas do projeto, que deve ser lançado oficialmente em julho, é a criação de um Serviço Civil Voluntário, por meio do qual médicos recém-formados poderão se inscrever para trabalhar pelo prazo de dois anos, devidamente remunerados, em regiões onde faltam profissionais.
Segundo o coordenador do plano, Milton Arruda Martins, o principal objetivo será corrigir as distorções regionais e encontrar meios de suprir as deficiências estruturais. "Precisamos aumentar o número de médicos, mas isso será feito de forma bastante criteriosa. Não queremos um aumento indiscriminado de vagas", garante. Os 181 cursos de Medicina em funcionamento no país formam por ano 16 mil novos médicos.
Distorções
Equipes técnicas do MEC e do MS farão um levantamento completo sobre onde o número de médicos é insuficiente, em quais especialidades e os motivos. O perfil deve ajudar na proposta de soluções. Antes de finalizado o estudo, não é difícil perceber, porém, que distantes dos grandes centros, as cidades do interior sofrem com a falta de equipes, de estruturas de apoio próximas, como hospitais e laboratórios, e de uma rede de atendimento integrada e articulada.
Em estados do Norte e do Nordeste, as capitais reúnem quase 90% dos profissionais. Segundo o Sistema Integrado de Entidades Médicas, em março do ano passado havia 575 médicos habilitados no Acre. Destes, 427 (74%) trabalhavam na capital, contabilizando um médico para cada 716 habitantes. Os outros 21 municípios dividiam 119 profissionais, cada um deles responsável por 3.236 habitantes. No interior de Roraima, a proporção passa de um médico para 10 mil pessoas.
Fonte: Gazeta do Povo - PR
LISTA
Distribuição de médicos é desigual
Apesar de ter mais profissionais do que o estipulado pela OMS, Brasil concentra 73% deles nas regiões Sul e Sudeste, deixando outras áreas pouco assistidas
Publicado em 09/06/2011 | Fabiula Wurmeister, da sucursal, e Marco Martins, correspondente em Santo Antônio da Platina
A desigualdade na distribuição de médicos no Brasil acompanha outros abismos sociais existentes no país. Apesar de haver um médico para cada 549 brasileiros - índice superior ao recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), de um para cada mil pessoas -, sete em cada 10 profissionais habilitados para atuar no país trabalham nas regiões Sul e Sudeste. Com isso, enquanto no Rio de Janeiro há um profissional para cada 289 habitantes, no outro extremo, os maranhenses dispõem de um médico para cada 1.848 pessoas. Os dados são de um novo balanço do Conselho Federal de Medicina (CFM).
Há cerca de 347 mil médicos espalhados por todo o Brasil. Não fosse a disparidade na repartição desses profissionais, poderia ser dito que a situação brasileira é melhor que a de países como o Japão (com um médico para cada 952 habitantes), Reino Unido (um para 869 pessoas) e Argentina (um para 740). A média recomendada pela OMS visa garantir que a população tenha assistência médica, assim como os profissionais tenham um número satisfatório de pacientes. No ranking brasileiro, o Paraná ocupa o 7.° lugar, com um profissional para cada grupo de 586 habitantes.
Improviso custa 30% da verba
Sem conseguir atrair médicos para trabalhar na cidade, a Secretaria de Saúde de Joaquim Távora, no Norte Pioneiro, vem gastando em média 30% do que investe no setor com o pagamento de especialistas levados à cidade e procedimentos realizados em outros municípios. E, para não deixar a população de quase 11 mil habitantes sem atendimento nos finais de semana, a secretaria tem pagado até R$ 2 mil por plantão de 24 horas no único hospital da cidade - mantido pela prefeitura.
Proximidade
No interior, consulta até no portão de casa
A placa na frente de uma imponente clínica médica de Santo Antônio da Platina, no Norte Pioneiro, indica que aquele é o local de trabalho do endocrinologista Klaus Crespo Lourenço, 30 anos. Ao contrário da maioria, ele escolheu o interior para trabalhar depois que se formou em Porto Alegre (RS) há pouco mais de um ano.
Contudo, a placa não diz que o endocrinologista é o mesmo garoto que viveu na cidade até ir para a faculdade e que, até hoje, é conhecido pelo apelido de infância. Kau Crespo, ou simplesmente Kau, faz questão de ser chamado pelo apelido, inclusive por boa parte dos seus pacientes.
O endocrinologista conta que, entre outros fatores, foi exatamente essa relação de proximidade que o fez trocar a chance de ficar na capital gaúcha para trabalhar em uma pequena cidade do interior. "A diferença é que o reconhecimento como profissional chega à medida que você se torna conhecido. Como a cidade é menor, esse tempo também diminui", explica o médico.
Oportunidade
Lourenço revela que em apenas um ano já são mais de 700 pacientes somente na sua clínica, fora os atendimentos feitos na rede pública. O endocrinologista observa que se estivesse em uma cidade grande, como Porto Alegre, dificilmente estaria atuando em uma clínica. "Com certeza, estaria vivendo de plantões em grandes hospitais."
Mas se é interessante do ponto de vista profissional, porque há escassez de médicos, principalmente especialistas, no interior? Para ele, a opção de trabalhar no interior deve estar aliada ao fato de gostar da vida nas cidades pequenas e de se habituar a encontrar seus pacientes diariamente, na rua, na padaria, na escola dos filhos e até em casa. "Já tive que dar consulta na porta de casa", revela.
Para o governo, o problema pode ser resolvido nas escolas médicas. Já para entidades de classe e especialistas, a má distribuição de recursos humanos é apenas a ponta do iceberg. "Apesar do bom índice, qualidade em saúde não pode ser medida apenas pelo número de profissionais disponíveis. Há uma série de outras exigências envolvendo formação, continuidade na qualificação profissional e infraestrutura. Se levarmos em conta o volume de médicos formados a cada ano, em pouco tempo não poderemos mais falar em defasagem. Isso não significa que o problema da má distribuição estará resolvido, pelo contrário", aponta o ex-presidente da Comissão de Residência Médica do Paraná, João Carlos Simões.
Uma das estratégias oficiais em curso - a cargo da Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação em Saúde do Ministério da Saúde (MS) e da Comissão de Especialistas do Ensino Médico do Ministério da Educação (MEC) - é a elaboração do Plano Nacional de Educação Médica. Uma das propostas do projeto, que deve ser lançado oficialmente em julho, é a criação de um Serviço Civil Voluntário, por meio do qual médicos recém-formados poderão se inscrever para trabalhar pelo prazo de dois anos, devidamente remunerados, em regiões onde faltam profissionais.
Segundo o coordenador do plano, Milton Arruda Martins, o principal objetivo será corrigir as distorções regionais e encontrar meios de suprir as deficiências estruturais. "Precisamos aumentar o número de médicos, mas isso será feito de forma bastante criteriosa. Não queremos um aumento indiscriminado de vagas", garante. Os 181 cursos de Medicina em funcionamento no país formam por ano 16 mil novos médicos.
Distorções
Equipes técnicas do MEC e do MS farão um levantamento completo sobre onde o número de médicos é insuficiente, em quais especialidades e os motivos. O perfil deve ajudar na proposta de soluções. Antes de finalizado o estudo, não é difícil perceber, porém, que distantes dos grandes centros, as cidades do interior sofrem com a falta de equipes, de estruturas de apoio próximas, como hospitais e laboratórios, e de uma rede de atendimento integrada e articulada.
Em estados do Norte e do Nordeste, as capitais reúnem quase 90% dos profissionais. Segundo o Sistema Integrado de Entidades Médicas, em março do ano passado havia 575 médicos habilitados no Acre. Destes, 427 (74%) trabalhavam na capital, contabilizando um médico para cada 716 habitantes. Os outros 21 municípios dividiam 119 profissionais, cada um deles responsável por 3.236 habitantes. No interior de Roraima, a proporção passa de um médico para 10 mil pessoas.
Fonte: Gazeta do Povo - PR